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Camponês, Aldeão. |
As nuvens cinzentas moviam-se disformes sob a imensidão do céu, cobrindo com a fina seda de suas sombras toda a superfície dos campos, montes e mares, sem contudo ofuscar de todo o brilho do sol, que ainda resistia sobre o excelso firmamento negando-se a ceder seu trono à fria obscuridade. De um campo elevado, olhos atentos fitam os contornos funestos a prenunciar derradeira tempestade. As nuvens dançam uma música horripilante cantada pelo invisível na voz de ventos uivantes. Faces de criaturas inomináveis surgem e ressurgem no oceano de vapor efêmero em quanto a escuridão se avoluma e se estende devorando a amplitude dos ares.
Compenetrado o jovem camponês contempla a preparação dos tecidos celestes à véspera do regressar da noite, sentindo o reverberar interior dos trovões que agora se faziam ouvir. Ainda maior atenção dedicava aos sublimes atores etéreos, pois a escuridade se fortalecia e de tempos em tempos um clarão seguido de um estampido ensurdecedor se fazia ouvir. Estava terrivelmente assustado e estranhamente encantado. Olhos arregalados, lábios afastados, inerte, tácito; quando um raio oriundo das trevas revelou criaturas colossais a se digladiarem além das nuvens, mas a explosão de luz e as trevas que se seguiram ocultaram a visão fantástica.
Debaixo de uma árvore frondosa, sentado sobre a relva verde, recostado ao tronco viçoso, o rapaz assistia absorto o espetáculo da natureza. Mas agora lembrava dos animais que ficaram aos seus cuidados pastando no campo. Era tarde, precisava partir. Ergueu-se rapidamente, avistou as cabras espalhadas sobre a planície. Havia deixado em casa a vara que usava para conduzir o pequeno rebanho, mas os animais conheciam a voz do moço, que não tardou em berrar alguma coisa sem aparente significado. "Woah", vocalizava aos quatro ventos ajuntando pouco a pouco os animais.
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